Impacto da saúde mental em pacientes com TDAH, TEA e esquecimentos
18/10/2024
(Foto: Reprodução) Segundo a neuropsicóloga Suzana Lyra, o cuidado com a saúde mental é essencial em todos os momentos da vida Dra Suzana Lyra
Renato Santana Santos
Tópicos relacionados à saúde mental como depressão, ansiedade e solidão possuem grande impacto na vida de pacientes com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno de espectro autista (TEA) e esquecimentos.
Segundo estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, da Universidade de Bristol e do King's College, entre outras instituições, dificuldades no desenvolvimento, deflagradas por características do TDAH e de autismo, estão relacionadas à depressão na adolescência e na vida adulta.
Já o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), aponta que cerca de 70% das pessoas com autismo podem ter um distúrbio mental associado.
Suzana Lyra (CRP03/9748), neuropsicóloga, Diretora e Responsável Técnica do Instituto Baiano de Neurodesenvolvimento Suzana Lyra (IBN), especialista em TDAH, TEA e esquecimentos, explica que o cuidado com a saúde mental é essencial em todos os momentos da vida, desde a infância até a longevidade, pois influencia em toda a saúde do indivíduo, seja mental, emocional ou física.
“A doença mental é uma condição que aumenta o risco de diversas patologias, especialmente crônicas, como diabetes, doenças cardíacas, depressão, ansiedade, medos, perda de autonomia, além de potencializar outras tornando-se em doenças psicossomáticas”. Confira:
Depressão e ansiedade podem estar associadas a quadros de TDAH e TEA? Ou impulsionar o aparecimento destes?
Tanto o TEA quanto o TDAH afetam o neurodesenvolvimento, com sinais visíveis já na primeira infância. Em ambos, os indivíduos apresentam desatenção, disfunção social e comportamento de difícil manejo. Na maioria das vezes esses indivíduos podem ter alguma outra doença associada chamada de comorbidade. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), cerca de 70% das pessoas com autismo podem ter um distúrbio mental associado.
Muitas vezes, quando identificadas, as comorbidades influenciam nas estratégias de tratamento e intervenção e é preciso modificar alguns para que se consiga atingir mais qualidade de vida para o paciente. As comorbidades podem variar de indivíduo para indivíduo, sendo as mais comuns: Transtorno Opositivo Desafiante (TOD), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), transtornos de ansiedade, incluindo ataque de pânico, hiperatividade, distúrbios do sono, alterações do apetite e outros.
Isso também se aplica aos esquecimentos?
Quanto aos esquecimentos, alguns pacientes podem apresentar graus moderados a grave de depressão e ansiedade e na maioria das vezes apresenta uma pseudo demência, e não o declínio propriamente dito. Tenho visto em consultório alguns casos de pessoas com TDAH não tratado na infância e fase adulta, apresentando possível quadro de demência. Mas esses dados, infelizmente, ainda não se podem confirmar, não existe nenhuma literatura ou artigo que fundamenta isso. São apenas dados de pacientes atendidos por mim, em consultório, ao fazer a avaliação neuropsicológica, padrão ouro, ou seja, com o máximo de critérios e qualidade possíveis.
Como o diagnóstico preciso e tratamento de TDAH, TEA e esquecimentos, contribuem com a saúde mental?
É importante considerar o diagnóstico diferencial de desatenção e hiperatividade no contexto dos comprometimentos da comunicação, comportamento e hiperfoco, que frequentemente acompanham o espectro autista e de déficit atencional. Crianças, adolescentes e adultos com TEA apresentam, por exemplo, prejuízos no contato visual, na reciprocidade social, na comunicação como um todo que podem fazer com que pareçam mais desatentos, assim como dificuldades na compreensão e interpretação do outro e do ambiente, que podem levar a comportamentos de aparente desinteresse e fuga, o que pode ser interpretado, também, como desatenção e hiperatividade.
No TDAH a pessoa pode também ter hiperfoco nas coisas de seu interesse, mas se distrai com as coisas que estão no ambiente que se encontra, podendo ser objetos, sons, iluminação etc. Então o tratamento envolve intervenções comportamentais, com metacognição, treino de habilidades sociais, suporte escolar e familiar e tratamento medicamentoso, quando necessário.
Pessoas com TDAH, TEA e esquecimentos estão mais suscetíveis ao isolamento social e desenvolvimento de ansiedade?
Sim. Geralmente o isolamento social acontece mais em pessoas com TEA, Depressão ou Declínio Cognitivo (demências). Em TEA a hiper sensibilidade sensorial está fortemente ligada às dificuldades de adaptação e estresse ambiental, sendo responsável por alterações de humor e crises de sobrecarga, tornando o convívio social mais difícil. Esse fator, aumenta a vulnerabilidade, uma vez que torna o isolamento social mais presente na rotina do autista. O isolamento social em longevos surge como uma consequência de déficits na comunicação, pois ficam envergonhados com esse novo modus operandi: esquece as palavras e com isso não tem assunto, sentindo-se, muitas vezes, perdido.
As dificuldades em expressar sentimentos e necessidades pode levar o indivíduo a sentir-se incompreendido e frustrado. Essa dificuldade contribui não somente para o sentimento de frustração, mas também para o isolamento social deste indivíduo.
O TDAH pode levar o sujeito a ter dificuldades emocionais, de relacionamento, contribuindo para a baixa autoestima, além do mau desempenho escolar, face às reais dificuldades no aprendizado. Algumas vezes, o paciente com TDAH sente-se envergonhado e termina se afastando do grupo por questões adaptativas.
Responsável Técnica: Dra Suzana Lyra (CRP03/9748), Neuropsicóloga.
